SAÚDE PSÍQUICA: A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO EM GRUPO
- Isabel Doval
- 29 de jun. de 2017
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de set. de 2021
ISABEL DOVAL
As pessoas não são seres isolado, apesar de poderem parecer assim. Ao longo da vida, se incluem, naturalmente, em diversos grupos. De outra parte, se constituem com um psiquismo que tem interiorizado registros das relações que experimentou desde tenra idade, o que significa dizer que um grupo se regula segundo a representação de grupos que cada indivíduo que faz parte dele, tem internalizada. Desta forma um grupo se constitui como um espaço de intervenção que se configura pelo entrelaçamento de distintos esquemas referenciais.
Como se define grupo?
Grupo é o conjunto de pessoas reunidas com a finalidade de realizar uma ação/ tarefa / objetivo comum. As pessoas se reúnem para realizar algo que sozinhas não poderiam realizar. Diferencia-se de agrupamentos em geral pela estrutura e pelo vínculo de afeto que caracteriza a ligação entre os seus integrantes. Para ser um grupo, além de compartilhar a direção e o caminho, o caminhar de um afeta a caminhada de todos. É fundamental que seus integrantes se reconheçam.
Para que essa ligação aconteça serão exigidas condições estruturais que facilitem aos seus integrantes expressarem a sua identidade e reconhecerem-se com significado uns para os outros. Portanto, é um lugar onde as relações são dramatizadas, onde imagens são fomentadas, e onde os sentimentos movimentam, excitam ou paralisam.
Em qualquer grupo constituído se forma um espaço grupal dinâmico que se comporta como uma estrutura que vai além da “soma” de seus componentes - como uma melodia não resulta da soma das notas musicais, mas da combinação e do arranjo entre elas.
Um grupo terapêutico tem por tarefa a cura no sentido de qualidade de vida, mas isto não o distingue dos demais grupos sociais: é antes uma experiência social privilegiada pela possibilidade de visualizar os comportamentos de seus integrantes, bem como os aspectos inconscientes que promovem tais comportamentos. E, ainda, pela possibilidade de observar o modo como seus integrantes estabelecem as ligações, bem como auxilia para que um e outro se percebam inteiros – com a totalidade de suas personalidades, potencialidades e possibilidades.
Num grupo vivo, cada etapa traz tensões e frustrações que precisam ser trabalhadas, bem como exige esforços para que o seu movimento seja reconhecido como consoante com os objetivos e as normas estabelecidos pelo próprio grupo. A vida grupal, em cada momento desde o primeiro minuto de sua existência, quando inicia o processo de interação, tem uma pauta, e na medida em que se movimenta a pauta vai se modificando, seguindo o curso de eventos e das necessidades individuais e grupais. Quem sou eu? Que são vocês? O que vamos fazer juntos? Como vamos fazer?...Estas são questões que, nesta ordem, representam o aumento da complexidade que caracteriza a vida do grupo em cada momento e o seu desenvolvimento.
Entre o grupo e a realidade fora dele, entre o grupo e o próprio grupo, há algo mais que relações entre forças reais: há, primitivamente, uma relação imaginária – com o grupo que constitui o psiquismo de cada individuo. As imagens que se interpõem entre o grupo e o próprio grupo, entre o grupo e o ambiente, explicam os fenômenos e processo do grupo. Sendo assim, a comunicação também se dá de maneira simbólica, através de expressões e conexões explicitas e implícitas, que podem constituir verdadeiros enigmas - como nos sonhos - que uma vez decifrados revelam a fenda existente entre os desejos e o modo de pensar em sociedade, entre os projetos de satisfação e as frustrações impostas, colocando questões só possíveis para o indivíduo quando ele está diante de outro, tais como a rivalidade, a fraternidade, a gratidão, a solidariedade, a colaboração e a geração de novas e transformadoras possibilidades.
A ambivalência e as diferenças são presentes em todo o processo, e se não puderem ser reconhecidas e acolhidas o que prevalecerá é a falta de energia para reagir à resistência - que é como a morte para o grupo. Prevalecerá a fragilidade e, desta forma, não há como arriscar uma transformação: ante a ambivalência, a saída passa a ser a negação; ante a diversidade, que outra saída que não a exclusão, a solidão?
O Grupo Terapêutico, para ser denominado como tal, se constitui por indivíduos que se reúnem de comum acordo, comungando normas e objetivando a criação de novos caminhos, diferentes daqueles cujo destino é a dor e o sofrimento. Esta modalidade de grupo têm se mostrado uma maneira eficaz de trabalhar problemas relacionados a situações críticas ou doenças crônicas, que muitas vezes vivem em um contexto de exclusão social. Em abordagens comunitárias, preventivas e de famílias, ou na abordagem do sofrimento psíquico relacionado a doenças como obesidade, adicção a substâncias químicas, e a outras diversas doenças crônicas; ou ainda, no acompanhamento de transplantados, de pessoas em reabilitação, e também de gestantes, de idosos, familiares de doentes psiquiátricos, enfim entre outros inúmeros exemplos. A intervenção em grupo tem se mostrado uma importante estratégia de apoio ao tratamento e melhoria na qualidade de vida dos que participam. Conviver com os outros está presente na vida das pessoas desde o inicio e é uma condição fundamental para o seu crescimento, evolução e superação de dificuldades. Muitas vezes, o intuito é apenas o de olhar e de ser olhado, além de favorecer a mudança de atitudes que dificultam a recuperação e/ou uma melhor forma de viver.
Desenvolver habilidades e adquirir conhecimentos para trabalhar com a complexidade característica dos grupos é um diferencial importante para profissionais que trabalham com saúde, qualidade de vida e educação. O autoconhecimento, revisão e confrontação dos modos cristalizados de ver a si mesmo e ao outro, e a possibilidade de lidar com o imponderável, com o inusitado, de abandonar padrões seguros e trabalhar em equipe, integra o conjunto de competências necessárias. E, diferentes competências apoiam-se em conhecimentos que se formam coletivamente.
















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